quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Especial Halloween: Gostosuras ou Travessuras?


Estava fantasiado de Vampiro, como o Drácula, sim. Sua mãe pintava os olhos do garoto de preto para que ele parecesse terrivelmente 'assustador' e conseguisse muitos doces. Ao terminar, beijou a testa do filho e deixou-o ir. Na esquina, encontrou-se com seu fiel amigo:
- Frankstein? que legal, Chris.
- Drácula? que legal, Ty.
Disseram em uníssono,  caindo na gargalhada. Começaram a andar felizes naquela noite que não fazia frio ou calor, almejando tantos doces quanto fosse possível até encontrarem- para a infelicidade de ambos - Victor, o fortão mais velho da turma, que já chegou falando:
- Vejam o meu saco de doces...está quase cheio. ( E estava mesmo ). Sabe o que falta para termina-lo? Os doces de vocês.
Era visível que nenhum dos dois tinha doce algum, e isso parecia estar nos planos de Victor.
- Vocês irão pedir doces lá no casarão velho. Ninguém tem coragem de pedir doces lá, então...vocês irão pra mim. Eu esperarei na frente do portão para que ninguém fuja, não é legal?
Chris e Ty se entreolharam, qual poderia ser o problema? Um cara como Victor poderia facilmente pedir doces naquela casa. O Problema eram as lendas de que a casa era amaldiçoada, habitada por monstros e tudo o mais que a mente pode produzir.

Foram, pois caso recusassem, aquela múmia ( essa era a fantasia ) iria dar a famosa *chuvinha* neles, e chuvinha não era nada legal receber. 
Olhar a casa já dava panico, ela era feita com uma madeira mais escura que o normal e dava mesmo o ar de ser terrivelmente assombrada. Chegar próximo a porta faziam as escadinhas rangerem e não existia tapete de "bem vindo". Bateram. Uma mulher de aparentemente uns 40 anos atendeu e, ao vê- los, mandou-os entrar...E parecia irrecusável.
Ao entrar perceberam a decoração de Halloween na sala, isso os deixaria mais tranquilos se os quadros pendurados dos familiares dela não os encarassem tão friamente. Da janela, Victor era visto de braços cruzados.
- Sentem-se meninos. Vamos comer. Disse ela, fazendo a atenção voltar para si..
- O...o que tem....para ser comido....?
Falou Chris, temendo ver algo nojento como sopa com olhos flutuando, ou cérebros fatiados.
- Vocês...... - Respondeu ela.
O olhar de panico deles foi impagável, e ao perceber, ela continuou.
- Vocês....gostam de bolo de chocolate?
Alivio.
- Si...sim.... Responderam eles e apesar de tudo, no momento seguinte, estavam comendo o bolo mais delicioso de suas vidas. 

Ouviram uma batida na porta, Victor estava temeroso de que a velha que os atendeu tivesse dado a eles a oportunidade de fugir por alguma porta dos fundos. E ao perceber o panico dos garotos, a senhora de fato deixou que eles o fizessem, e calmamente foi até a porta, abrindo-a, para escutar o tipico: Gostosuras ou travessuras?
Sorriu. 
Pediu que ele entrasse da mesma forma e se sentasse a mesa, ao ver os pratinhos sujos, ele supos que de fato os moleques tinham fugido, e tomariam *chuvinha* logo que os encontrasse, porém o cheiro de chocolate o chamou de volta para o momento, onde ele perguntou:
- O que tem para comer?
A senhora virou-se para ele felicíssima e disse:
- Você....
O Rosto rosado de Victor ficou ainda mais avermelhado, seus olhos arregalados e os lábios sendo mordidos por ele mesmo mostravam mais do que panico naquele garoto, mostrava um intenso pavor, um terror que as faixas de múmia não conseguiram esconder....

...

...Fora comido. Nunca mais ninguém viu Victor - não é legal? 
 Gostosuras ou travessuras?

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Autos 5: Das Terríveis Expressões...



Começava olhando o quadro branco a sua frente pelo tempo que fosse necessário, em seguida erguia uma das mãos - por exemplo, à esquerda - e fechava um dos olhos - nesse caso, o direito - para enxergar a perspectiva e pronto: lá estava a projeção do que ele queria representar.
 O próximo passo era o de seleção, pegava as cores no tom que gostaria de expressar, indiferente a realidade, não era essa a necessidade, misturava-as e molhava bem a ponta do pincel.
 O momento seguinte era frenético, as pinceladas iam e vinham com tamanha destreza que ele terminava em poucas horas algo que necessitaria de dias na mão de qualquer outro artista. Entrava em transe.
O Resultado? Espetacular.

Mas algo em minhas obras vinha me causando um estranho sentimento... um incomodo. Todas elas, desde que minha mulher fora embora, desde que recebi aquela estranha visita, pareciam estranhamente semelhantes em um aspecto.
 Suas expressões.
Enfim, não era hora para pensar naquilo, logo receberia novamente a visita, a pessoa que encomendava os quadros.

Ele vinha sempre da mesma maneira, ele batia a porta e perguntava se podia entrar e, mesmo que eu dissesse "aguarde um momento" ele entrava. Andava pelos cômodos de minha casa até encontrar-me e então começava a perguntar sobre o quadro. Não posso dizer que ele me era próximo embora eu o já tenha encontrado tantas vezes (Sem perceber, confesso). E  fazia questão de tocar em um assunto - a mim - pessoal: minha separação. Isso me deixava mal, e assim que ele percebia, fazia questão de falar da próxima encomenda, o próximo rosto que eu deveria desenhar.
Era quase uma hipnose, pois quando ele comentava sobre isso, eu também 'quase' esquecia de tudo o que ia fazer e tomado por um sentimento único (e não necessariamente bom), eu me sentava e pintava continuamente.

Porém, naquele dia eu estava disposto a perguntar o que já há um tempo me atormentava:
- Por que em todos os rostos que desenhei, todos os personagens aparentam estresse... fúria, revolta....Por que?
Aquele senhor que fazia as encomendas, de rosto severo, mas que costumava parecer gentil e até sorrir, sempre trajado de preto, respondeu prontamente:
- Talvez você só os represente dessa forma porque não compreenda, ou talvez...

Deixou no ar o restante da frase, apenas me observava enquanto eu continuava incessantemente pincelando o quadro; primeiro as sobrancelhas franzidas, depois os olhos cerrados e então as rugas de expressão juntamente de dentes trincados ou gritos engasgados.
Sem perceber, eu ia desenhando pessoas que mantinham a expressão de que matariam quem as admirasse, e, no entanto, ele sempre encomendava mais e mais quadros assim.  Custou a eu perceber que as faces - a principio - desconhecidas eram na verdade alusões a todos os meus familiares e meus companheiros próximos, minha ultima encomenda foi minha ex-mulher, a quem dediquei mais horas para representar terrivelmente em sua face tudo que haveria de pior no mundo... Mas foi só após terminar meu próprio auto-retrato que compreendi o que eram aquelas expressões.

Tratava-se da visita do ÓDIO, o mesmo sentimento que inundavam todos meus desenhos e que me fazia sentir repulsa por cada um daqueles que desenhei...

De qualquer maneira, lembrar disso tudo me deixa muito mal, mas tanto faz...
Não me incomode. Eu preciso desenhar agora...




"O ódio tem melhor memória do que o amor"

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Lunático


Mesmo para aquele que de tristeza e em pranto,
Diante do véu obscuro, sombras da noite.
Sentir no peito uma dor intensa! Um açoite...
Continuar, espantado, a observar o seu manto.

Encontrará - por fim - se de apetite voraz
As estrelas que banham o céu da forma mais plena.
E de seu meio entre as nuvens, revelar-se serena
A Lua, da forma que a cada um mais apraz.

Por isso, se forem tomados por pensamentos tais
Busquem vê-la! Procurem Conversar com a Lua...
De Saudade e Desejo que se desprendem desiguais.

Encontrareis recanto lembrando-se dela ainda mais!
Posto que no céu ela é tão minha quanto é tua
E do pranto tereis algo digno de seres angelicais!